Segurança Social<br>é dos trabalhadores!

João Frazão

«No seu tempo talvez tenha, mas quando for eu já lá não há dinheiro». A afirmação, vinda de um jovem trabalhador por conta de outrem, referindo-se à garantia de pagamento da sua reforma, sinaliza um sentimento que é hoje muito generalizado e que tem vindo a ser alimentado pelo capital e pelas mais diversas vozes ao seu serviço.

À volta da ideia dos problemas da sustentabilidade da Segurança Social têm vindo a ser divulgados os cenários mais aterradores que, qual nostradamus, antevêem a sua implosão, confirmados por dificuldades concretas, pequenos atrasos, e outros nem tão pequenos, no pagamento de pensões e outras prestações sociais, cortes e eliminação de direitos.

Sem se iludir dificuldades objectivas, e particularmente perigos que decorrem das opções da política de direita, é necessário questionar qual é o interesse em desacreditar assim a Segurança Social.

Este é um processo tão antigo como a Segurança Social e que decorre do facto dela ser tão apetecível. Estamos a falar de autêntico bife do lombo, que no momento presente envolve as contribuições mensais, garantidas, de cerca de três milhões de trabalhadores no nosso País.

Quantidades imensas de dinheiro a que apetites privados querem deitar a mão.

É por isso que vão insistindo na tese de que a Segurança Social está falida, de que é preciso de fazer qualquer coisa, de que, num futuro não muito longínquo, não haverá dinheiro para cumprir as suas obrigações. Querem, no fundo, fomentar o desapego a essa instituição que, sendo gerida pelos governos de serviço, é dos trabalhadores, de todos os que contribuem para ela.

Se cada um estiver convencido de que não terá retorno das suas contribuições, será mais fácil de convencer a aceitar medidas como o plafonamento, que não é mais que a entrega dessas contribuições aos tais apetites da especulação.

Ao insistirem na tese da falência e da necessidade inadiável de «reformas», escondendo que à Segurança Social têm sido cometidas responsabilidades que são do Orçamento do Estado, que deixou por transferir milhares de milhões de euroso, para esses fins, o grande capital, através dos seus representantes, está a fazer o seu caminho, na certeza de que se os trabalhadores a deixarem de sentir sua, menos resistência encontrarão ao saque que planeiam há tanto.

 



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